Fundador Complementar
Godofredo Mendes Viana

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Cadeira
15
Biografia
Nasceu em Codó, a 14 de junho de 1878, época em que seu genitor exercia as funções de juiz de Direito naquela cidade maranhense, e faleceu no Rio de Janeiro, a 12 de agosto de 1944. Repete-se, para elidir qualquer dúvida, em face dos reiterados registros errôneos sobre local e data de nascimento desse ilustre maranhense, que Godofredo Viana nasceu em Codó, a 14 de junho de 1878. Após fazer os estudos de Humanidades em São Luís, seguiu para Salvador-BA, em cuja Faculdade Livre de Direito bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais, no ano de 1903, integrando turma da qual foi o orador. De volta ao Maranhão, exerceu as funções de promotor público em Alcântara, e posteriormente as de juiz seccional substituto.
Jurista na verdadeira expressão do termo, produziu diversas obras nesse ramo do saber, a exemplo de No país do Direito (São Luís: Imprensa Oficial, 1914), além de haver redigido o Código de Processo Civil e Comercial e o Código de Processo Criminal do Estado do Maranhão.
Foi professor de Direito Constitucional da antiga Faculdade de Direito do Maranhão.
Pertenceu à Oficina dos Novos, onde ocupava a Cadeira Nº 17, patroneada pelo também codoense dos mais ilustres, Almeida Oliveira.
Governou o Maranhão de 1923 a 1926, havendo realizado administração operosa, que lhe possibilitou implantar, em bases modernas, os serviços de abastecimento de água, luz e esgoto de São Luís. Exerceu ainda o mandato de Senador da República.
A par de numerosos trabalhos de natureza diversa e de copiosa colaboração em jornais e revistas, publicou, no campo da literatura, os livros: Terra de ouro (evocações históricas). Rio de Janeiro: Calvino Filho, 1935; Ocasião de pecar (romance sob a forma de missivas a um destinatário fictício, e subintitulado Cartas Frívolas). Rio de Janeiro: José Olympio, 1939, e o romance Por onde Deus não andou (Rio de Janeiro: José Olympio, 1946), de publicação póstuma, reeditado em 2008 (volume 5 da Série Fundadores, coleção Publicações do Centenário).
Godofredo Viana, com toda certeza uma das mais brilhantes figuras do grupo fundador da Academia, teria deixado inédito um livro de poesia, intitulado Versos de outrora.
Romance regional sem resquício de culpa em razão de eventual anacronismo que não se lhe pode imputar, por desconhecimento da época em que foi escrito, já que livro de publicação póstuma, Por onde Deus não andou é ambientado em Codó, terra natal do autor, que apesar de lá não ter vivido por longo tempo, revela profundo conhecimento do microcosmo tomado para cenário da narrativa, que abrange, por extensão, larga faixa da hinterlândia maranhense, notadamente a chamada Região dos Cocais, mística de prolongado percurso do rio Itapecuru. Das profundezas desse pequeno mundo em si completo e autossuficiente, a despeito de suas carências endógenas, Godofredo Viana emerge, trazendo o registro dos costumes, do linguajar, das lendas, sagas, racontos, crendices, abusões, adagiário, rituais lúdicos, enfim – todas as manifestações culturais dos pagos longínquos e pobres, mas estuantes de vida. Vida vivida e manifestada nos folguedos populares, nas gestas antanhas ligadas ao ciclo do gado, a exemplo do Rabicho da Geralda, de que tratam José de Alencar (Nosso cancioneiro), Sílvio Romero (Estudos sobre poesia popular do Brasil) e outros mais. Também o bumba-meu-boi, sotaque daquela região em determinada época, é percucientemente coletado, inclusive com a inteireza de seu auto, espécie de entremez ou facécia hoje de ocorrência cada vez mais rara, inclusive por míngua de quem lhe faça a representação. Presentes, como seria de esperar, os acepipes e comes-e-bebes tipicamente regionais, e as danças da sociedade também, pois no romance há vida, e vida em abundância.
Digna de especial menção a engenhosa competência com que Godofredo Viana conduz a trama romanesca, desviando-a providencialmente de um desfecho que, manejado por mãos toscas, resultaria, talvez, em sanguinolenta tragicomédia cabocla, posto que o triângulo amoroso formado pelo engenheiro Alberto, chegado do Rio de Janeiro para conhecer as terras de sua família, a encantadora mulata Inácia, de cabelos ondulados e corpo escultural recendente a baunilha, e o companheiro desta, Amândio, homenzarrão destemido, escopeteiro que não erra sequer um beija-flor, sendo que este, por ignorar o tórrido romance, era a maior ameaça em caso de seu desvelamento.
Nada disso, porém, aconteceu. A narrativa tangencia a tragédia, mas passa ao largo dela, possibilitando que todos os actantes fossem felizes para sempre.
Embora este não seja um romance de tese, ocorrem nele importantes discussões de fundo social, inclusive e principalmente em torno do babaçu, importante item da vida econômica da região, à época ocupando posição de grande peso na economia maranhense.
Por fim, Amândio e Inácia retomam seu idílio, ao passo que Alberto embarca de volta para o Rio de Janeiro. A bordo do vapor Manaus, na amurada, contempla a cidade de São Luís, que vai sumindo, sumindo, à medida em que o vapor dela se afasta. Até que as ameias neomanuelinas das duas torres da Igreja de Santo Antônio desaparecem, tragadas pelas águas revoltas da baía de São Marcos.
“Godofredo Viana
[…] “À geração, aos companheiros de aventura renovadora e, mesmo, aos mestres, causava espanto aquele moço de vinte e dois anos, tão fortemente aparelhado para os prélios da inteligência. Poeta e prosador, com um estilo sóbrio e um admirável poder descritivo, poderia ser o melhor conteur, de todo o grupo. A sua paixão pelo Direito era, porém, evidente. E de tal maneira, e tão imperativa, que, ao regressar formado ao Maranhão, em 1903, havia lacrado, já, para exumação oportuna, o formoso livro de contos em que depositara, anos antes, toda a sua esperança de glória.
“Jurista de grande cultura, conhecendo, em uma cidade de vida forense retardada, os mais novos e complexos aspectos do Direito, era Godofredo Viana apontado, em breve, como a primeira cabeça jurídica do Maranhão. Os juízes mais antigos consultavam-no nas suas sentenças. Os presidentes do Estado se desejavam um contrato ou uma lei, mandavam buscá-lo a casa, metiam-no em palácio, e confiavam à sua competência a salvaguarda do interesse oficial. Foi assim que ele organizou os Códigos de Processo do Estado, e escreveu, no estilo mais límpido e com a cultura mais profunda, o Código de Processo Civil e Comercial do Estado do Maranhão, o Código de Processo Criminal, as Formas e fórmulas processuais, No país do Direito, a Prática do Processo Criminal, e outras obras que constituem hoje, nos do mínios do Direito, o que o Maranhão possui de mais perfeito, de mais sólido, e de mais moderno, em matéria de legislação.
“Modesto até os limites da inconveniência, Godofredo contentava-se com a alegria desse trabalho, quando lhe deram, como prêmio de construir a glória alheia, o cargo de juiz substituto federal. E exercia essas funções, muito abaixo do seu merecimento e dos seus direitos, quando, ao chegar ao Maranhão como presidente, Urbano Santos ficou indignado.
“– Mas você, com esse talento, aqui? Isto é um crime!
“E enviou-o, logo, diretamente, ao Senado da República, onde se impôs, de pronto, aos juristas mais ilustres da casa, e de onde saiu, altivo, digno, glorificado pela admiração nacional, para governar o Maranhão.
“Presidente do Estado, Godofredo Viana quis ser para a sua terra, e para a sua gente, o que era quando simples advogado: a mesma criatura afável, boa, gene-rosa. As portas do Palácio ficaram abertas, escancaradas a todas as classes. O dono da casa não sabia dizer “não” a ninguém. Às vezes, aparecia um sujeito a pedir uma cousa difícil – licença, emprego ou pagamento. O presidente oferecia uma evasiva, desculpando-se. O sujeito ensaiava, porém, uma lágrima na ponta da pestana. O presidente umedecia os olhos. E o sujeito estava servido.”
Bibliografia
Humberto de Campos
Perfis, II série
Discursos de Possê
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Textos Escolhidos
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Iconografia
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