
Fundadores


Biografias

Nasceu em São Luís, a 10 de novembro de 1860 e faleceu no Rio de Janeiro, a 4 de setembro de 1923. Bacharel em Direito pela Faculdade do Recife. Nessa tradicional instituição de ensino jurídico integrou turma composta por mais de uma centena de alunos que colaram grau no ano de 1884. De regresso à sua terra natal, exerceu as funções de procurador da Justiça Federal no Maranhão. Educador de indiscutíveis e admiráveis méritos, tinha nesse campo suas atividades de eleição, merecendo atenção especial o vanguardismo de suas idéias didático-pedagógicas, fato inequivocamente comprovável pelo perfil temático predominante de sua bibliografia e pelo patrono que, ao fundar na Academia Maranhense de Letras a Cadeira Nº 1, escolheu: o jurisconsulto, político, homem de Estado e pedagogista maranhense Antônio de Almeida Oliveira (1843-1887), autor de importantes livros jurídicos e de diversos trabalhos sobre educação, entre os quais o célebre livro O ensino público (São Luís: Tip. do Frias, 1874; 2ª ed., Brasília: Senado Federal, 2003). Também foi Almeida Oliveira co-fundador, com Enes de Sousa, da Biblioteca Popular, e com Martiniano Mendes Pereira e João Antônio Coqueiro, da Escola Onze de Agosto, ambas instaladas em São Luís, no século XIX.
Além de trabalhos como Cantos escolares, Um programa de história e Síntese histórica da educação, publicou Instrução cívica; resumo didático. (São Luís: 1900); Escrita rudimentar (São Luís: 1904); O mestre e a escola (São Luís: Imprensa Oficial, 1911); Os ramos da educação na escola primária (São Luís: 1914); Higiene pedagógica (São Luís: 1914).
O livro À memória do Dr. Benedito Pereira Leite, além de homenagem especial ao amigo, é reconhecimento ao estadista que dispensou cuidados especiais à educação, segundo se conclui da leitura do seguinte oferecimento ao governador Luís Domingues, a seguir transcrito:
Domingues:
É este o primeiro exemplar que sai das oficinas, do livro O mestre e a escola, cuja publicação na Imprensa Oficial permitiste que continuasse.
Cabe-te ele de direito e espero que o aceites.
Escrito às pressas, num tempo muito limitado e até quase sem prévia disposição da matéria dos seus capítulos, ele concentra o seu merecimento, se algum possui, em dar a conhecer, fora daqui, a quem o ler, a nossa adiantada organização escolar.
E, por esse modo, presta, ao mesmo tempo, merecida homenagem à memória do nosso pranteado amigo Benedito Leite, a cuja feliz iniciativa e enérgica decisão se deve o desenvolvimento que a instrução pública adquiriu em nossa terra, nos últimos anos.
Do muito amigo
AB de Godóis
São Luís, 31/1/1911.
Embora não se lhe atribua talento poético, Barbosa de Godóis compôs a letra do Hino Maranhense, poema de razoável beleza, musicado pelo maestro Antônio Rayol.
Desse poema cívico vão transcritos apenas as duas primeiras das sete estrofes:
Entre os rumores das selvas seculares
Ouviu-se um dia, no espaço azul vibrando,
O troar das bombardas nos combates
E após, um hino festival soando.
Estribilho
Salve Pátria! Pátria amada!
Maranhão, Maranhão, berço de heróis,
Por divisa tens a glória,
Por numes nossos avós!
A par dos livros citados, Barbosa de Godóis escreveu uma História do Maranhão; para uso dos alunos da Escola Normal (São Luís: Ramos d´Almeida, 1904), obra em 2 tomos, que durante prolongados anos foi a única fonte didaticamente acessível aos estudantes e ao público geral, fonte que ainda hoje reveste-se de interesse e pode perfeitamente ser compulsada com algum proveito, inobstante estejam disponíveis no mercado, diversas obras congêneres.
O didaticamente acessível antes referido, diz respeito, fique de logo bem claro, tão-somente à acessibilidade in essentia de uma obra composta pela justaposição sucessiva dos mementos organizados para as aulas que seu autor ministrou na Escola Normal, a partir de 1899, ano em que teve início seu magistério nesse modelar estabelecimento de ensino, que tantos e tão relevantes serviços prestou à nossa terra.
Reeditada num único volume (volume 4 da Série Fundadores da coleção Publicações do Centenário), a 2ª edição da História do Maranhão (São Luís: AML/Eduema, 2008. 366p.) significativamente enriquecida com 23 ilustrações do álbum Maranhão ilustrado, de 1899, correspondeu a importante devolução de um dos mais expressivos documentos de estudo de numerosas gerações de maranhenses.
A História do Maranhão, de Barbosa de Godóis, há muito classificada verdadeira raridade bibliográfica, em boa hora, com sua reedição, tornou-se, em razão de seu modicíssimo preço, acessível a todos os interessados.
Português natural de Setúbal, e que adotou o heterônimo FRAN PAXECO, oficialmente reconhecido na repartição consular de Portugal em São Luís, nasceu a 9 de março de 1874, e faleceu em Lisboa, a 17 de setembro de 1952, aos 78 anos de idade. Precocemente vocacionado para as letras, aos 14 anos de idade fundou o jornal Gazeta Setubalense, e anos depois passou a colaborar assiduamente em diversos órgãos da imprensa portuguesa. Republicano ardoroso, por seu engajamento político, viu-se compelido a emigrar de seu país, escolhendo vir para o Brasil.
Aportou primeiramente no Rio de Janeiro, e a seguir viajou para o Norte: esteve em Belém, depois em Manaus, havendo atuado culturalmente nessas duas cidades, com intensa colaboração na imprensa.
Chegado a São Luís no último ano do século XIX – a 2 de maio de 1900 –, Fran Paxeco, sem prejuízo de suas atividades práticas, logo passou a desempenhar importante e decisivo papel na vida cultural em nossa cidade, que então tomava corpo, como reação auspiciosa à apatia que, durante anos seguidos, mantivera, entre pesadas nuvens de desânimo e frustração, o glorioso sol de Atenas, que sobre nós refulgira, graças a uma constelação de talentos realmente privilegiados.
A juventude maranhense, ainda vivamente impulsionada pela força arrebatadora do verbo de Coelho Neto, que aqui falara às multidões como um profeta anunciador da ressurreição que era imperativo promover, teve, no entusiasmo inquebrantável de Fran Paxeco, uma das colunas-mestras – a outra foi Antônio Lobo – da grande obra que se iniciava.
Jovem, Fran Paxeco aliava ao vigor dos seus 26 anos de idade, um tirocínio, uma visão de mundo e uma cultura que se reveleram imprescindíveis à movimentação da vida são-luisense, sob os mais diversos aspectos.
Em todas as iniciativas relevantes tomou parte e de muitas foi o impulsionador: fundação da Oficina dos Novos, da Academia Maranhense de Letras, da Legião dos Atenienses e de numerosas outras instituições culturais; palestras literárias, cortejos e homenagens cívico-culturais, instituição da Universidade Popular, do Curso de Direito, revigoramento e reorganização da Associação Comercial do Maranhão, luta por modernos meios de transporte, pelo incentivo à agropecuária, pela criação de um parque industrial, pela melhoria dos serviços de saúde, pela urbanização da cidade. E tudo isso de par com atividades no magistério público e particular, com diuturna atuação na imprensa, com viagens e trabalhos na Amazônia, com a publicação de livros, com idas ao Rio de Janeiro e a Portugal.
Na imprensa maranhense deixou uma colaboração tão diversificada e ao mesmo tempo copiosa, que ainda hoje aguarda e reclama a seleção temática da qual resultarão seguidos volumes de interesse para o estudo da vida maranhense. Tais volumes viriam somar-se às obras maranhenses desse autor de vasta bibliografia que compreende assuntos tão variados quanto foram os campos de interesse de seus estudos.
Da prolífica produção bibliográfica de Fran Paxeco serão citados, seletivamente, os seguintes títulos:
O sangue latino. Lisboa: 1897;
O Sr. Sílvio Romero e a literatura portuguesa. São Luís: Ramos d´Almeida, 1900;
O romantismo e os seus prógonos (conferência). São Luís: 1908;
Angola e os alemães. São Luís: 1916;
A Visão dos Tempos: epopéia da humanidade. Coimbra: 1917;
A Escola de Coimbra e a dissolução do romantismo. Lisboa: 1917;
A cortiça em Portugal. Lisboa: 1917;
Portugal não é ibérico. Lisboa: 1932;
O Maranhão e seus recursos. São Luís: 1902;
Os interesses maranhenses. São Luís: 1904;
O trabalho maranhense. São Luís: 1916;
Geografia do Maranhão. São Luís: Tipogravura Teixeira, 1923;
O Maranhão (subsídios históricos e corográficos). São Luís: Tipogravura Teixeira, 1913; 2ª ed., São Luís: Associação Comercial do Maranhão, 1998; 3ª ed., comemorativa do Centenário da Academia Maranhense de Letras. São Luís: AML/Eduema, 2008. Obra fartamente ilustrada. Volume 12 da Série Fundadores, coleção Publicações do Centenário.
Se juntarmos a esses títulos e outros mais que foram omitidos, os livros que jazem em-estado-de-jornal, teremos uma idéia do fecundo labor intelectual de Fran Paxeco, um dos mais admiráveis homens de espírito que já serviram ao Maranhão.
Nasceu na cidade maranhense de Riachão, a 14 de janeiro de 1881, e faleceu no Rio de Janeiro, a 29 de setembro de 1977.
Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife, integrou a turma que colou grau em 11 de dezembro de 1911.
Alcançou grande nomeada como profundo conhecedor da língua portuguesa e severo defensor da correção no falar e no escrever segundo os ditames da Norma Culta. Realmente notável era sua cultura filológica.
Professor, crítico, poeta, contista e jornalista. Catedrático de Português e Literatura da antiga Escola Normal do Maranhão. Diretor do Liceu Maranhense. Diretor da Biblioteca Pública do Estado, no período de 10 de agosto de 1926 a 28 de fevereiro de 1930.
Em sua gestão a Biblioteca retornou do pavimento térreo do então Congresso Legislativo do Estado (na Rua do Egito) para o imóvel da Rua da Paz.
Ao longo de seguidos anos atuou como advogado militante nos foros de São Luís, condição em que, pela classe dos advogados, foi nomeado desembargador do Tribunal de Justiça do Estado, cargo de que tomou posse em 5 de maio de 1931, mas em cujo exercício não entrou imediatamente, por encontrar-se investido nas funções de secretário-geral do Estado, das quais se exonerou em 14 de julho de 1931, ingressando, a seguir, na magistratura.
Demitido pelo interventor federal Lourival Seroa da Mota, Alfredo de Assis Castro foi reintegrado em seu cargo, havendo tomado posse novamente a 14 de maio de 1934.
Contados seus muitos anos de serviço público, aposentou-se como desembargador em 1936, a partir de quando se radicou no Rio de Janeiro.
Antes, em plena mocidade, Alfredo de Assis acompanhou Humberto de Campos, transferindo-se para Belém, onde ambos fundaram a revista Alma Nova, de efêmera duração. Enquanto Humberto de Campos seguia para o Rio de Janeiro, Alfredo de Assis fez o caminho de volta, retornando a São Luís na altura de 1915.
De sua experiência de operador do Direito, publicou os livros Razões finais. São Luís: Tip. Chaves & Cia., 1925, e Justiça penal. Rio de Janeiro: Bedeschi, 1937.
Alfredo de Assis, o terceiro mais moço dos doze fundadores da Academia (os outros mais jovens eram Corrêa de Araújo, 23 anos, e Vieira da Silva, 21 anos), foi, nesse grupo, o que por último veio a falecer.
Em jornais e revistas de São Luís e do Rio de Janeiro, deixou copiosa colaboração que testemunha seu labor intelectual e sua notável erudição.
Bibliografia literária
Coisas de vida (contos). São Luís: Tipogravura Teixeira, 1916; Um crítico…; palavras a Osório Duque Estrada. São Luís: 1917; Alocuções. São Luís: J. Pires & Cia., 1918; Gonçalves Dias. São Luís: Ramos d´Almeida & Cia., 1926; A linguagem das Sextilhas de Frei Antão. Rio de Janeiro: I. Amorim & Cia. Ltda., 1939; Pó e sombra (poesia). São Paulo: s/ed., 1961; 2ª ed., dita nova edição, Rio de Janeiro: s/ed., 1970.
Coisas da vida (contos), livro com o qual Alfredo de Assis fez sua estréia literária, foi muito bem recebido pela crítica da época, maiormente unânime em ressaltar-lhe as qualidades, que são, de fato, notórias, a exemplo, entre outros que poderiam ser dados, de Monteiro Lobato, que assim saudou o livro do estreante: “Senhor da língua tão pura e estilo tão correntio, que nos dê fortes romances onde se desencarne a vida maranhense, é o desejo deste sulino agradecido, e penhorado pela gentileza da dedicatória imerecida.”
Aconteceu, porém, que desse diapasão discrepou asperamente Osório Duque Estrada, nome hoje obscurecido e tão-somente lembrado a propósito da letra do Hino Nacional, texto arrevesado e subgongórico, no qual o acontecimento da poesia deve-se exclusivamente aos versos em muito boa hora tomados de empréstimo ao excelso poeta da Canção do Exílio.
Osório, na seção Registros, que mantinha n´O Imparcial, do Rio de Janeiro, investiu contra Coisas da vida. Provavelmente, do alto de sua autossuficiência de censor nacional, não previu que o estreante provincial reagisse da forma que o fez. Além da demolidora resposta que lhe deu pelo mesmo jornal, Alfredo de Assis escreveu seu segundo livro, intitulado Um crítico… palavras a Osório Duque Estrada, onde desanca o sucessor de Sílvio Romero na Cadeira 17, da Academia Brasileira de Letras, reduzindo às justas proporções o discurso com que Osório ingressou na ABL, ao mesmo tempo em que, na defesa do seu livro de contos, lançou por terra, uma a uma, todas as restrições de seu censor.
Tempos depois, para contestar consistentemente o professor Cândido Jucá, filho, que, perante congresso da Federação das Academias de Letras do Brasil (instituição junto à qual era delegado da Academia Maranhense de Letras), apresentou tese repleta de restrições à correção da linguagem medieval de famoso poema de Gonçalves Dias, Alfredo de Assis escreveu o livro A linguagem das Sextilhas de Frei Antão, que lhe atesta profundo saber histórico de nosso idioma.
Por essas e por outras, foi sendo construído em torno de Alfredo de Assis o justo reconhecimento de um autêntico e erudito homem de letras.
Nasceu em Oeiras (PI), a 7 de setembro de 1855, e faleceu em Teresina, a 29 de junho 1924. Fez os primeiros estudos e os de Humanidades em São Luís, no Seminário das Mercês e no Liceu Maranhense, concluindo-os no Liceu Piauiense, no ano de 1870. Em 1880 colou grau de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife. Residiu em diversas localidades no território nacional, a exemplo do Rio de Janeiro, Mato Grosso e Pará, onde exerceu importantes funções. Transferiu-se para São Luís no início do século XX, e aqui teve atuação intelectual de tal relevo, que, embora não sendo maranhense, figurou entre os fundadores da Academia. De volta à sua terra, participou da fundação, em 1917, da Academia Piauiense de Letras, da qual foi o primeiro presidente. Desembargador do Tribunal de Justiça do Piauí. Escritor prolífico, de quem apenas serão citados estes romances históricos, originalmente publicados em jornal: O Bequimão; esquisso de um romance maranhense, e O Palácio das Lágrimas, pela primeira vez enfeixado em livro. Fundou na AML a Cadeira Nº 18, cujo patrono é Sousândrade.
Entre todos os fundadores da Academia, foi quem teve existência mais movimentada e aventurosa.
Espírito permanentemente aberto à renovação, de si mesmo diria, ao impor nova direção a seu espírito permanentemente inquieto: “Esta quadra positivista passou, desde que fiz conhecimento mais íntimo com Darwin, Haeckel, Schopenhauer, Lange e Nietzche, em cujo culto filosófico permaneci por muito tempo, até que Huxley me apontou o caminho reto de agnosticismo que sigo, acreditando que seja a última parada de minha evolução mental. Certamente acompanharia Bergson, porque não pretendo regressar para Kant, não obstante já ter sido afirmado que voltar a Kant é progredir.”
Também entre os fundadores, será o titular de mais numerosa e diversificada bibliografia, circunstância que lhe confere o reconhecimento de verdadeiro e laborioso polígrafo, não suplantado nem por Fran Paxeco, desde que se lhe computem as obras deixadas inéditas e as semi-inéditas, porque publicadas em revistas e jornais, onde jazem hoje esquecidas. Livros em estado-de-jornal eram o esquisso de romance O Bequimão (São Paulo: Siciliano, 2001. 136p. Coleção Maranhão Sempre), assim como O Palácio das Lágrimas, novela histórica, como histórico é o pequeno romance O Bequimão, além de outros trabalhos que brevemente surgirão sob a forma de livro. Versam todos eles assuntos históricos maranhenses de grande importância regional. Ambos foram trazidos do semi-ineditismo graças às pesquisas da Professora Doutora Teresinha Queiroz, do Departamento de História da Universidade Federal do Piauí, membro da Academia Piauiense de Letras, a maior autoridade sobre Clodoaldo Freitas, e quem mais tem feito, no sentido de divulgar-lhe a obra imensa e admirável.
Da vastíssima bibliografia de Clodoaldo de Freitas, citam-se apenas os seguintes titulos: Os fatores do coelhado. Teresina, 1892; História do Piauí (sinopse). Teresina: 1902; Vultos piauienses. Teresina: 1903; O Piauí: canto sertanejo. Teresina: 1908; Em roda dos fatos. Teresina: 1911 (2ª ed., Teresina: FMC, 1996); Contos a Teresa. Teresina: 1915; História de Teresina. Teresina: 1988; Memórias de um velho (Imperatriz: Ética, 2008), novela originalmente publicada em folhetins do jornal A Pátria (Teresina, 1905/1906), de onde recolhido e organizado para publicação em livro por Teresinha Queiroz, a mais autorizada estudiosa da obra de Clodoaldo Freitas.
O Palácio das Lágrimas foi originalmente publicado como folhetim do Diário do Maranhão (São Luís), em suas edições de 21, 22, 23, 25, 27, 28, 29 e 30 de junho de 1910, sempre na página 2.
Cumpre agradecer penhoradamente à Professora Doutora Teresinha Queiroz, que num gesto de grandeza e desprendimento, tão característico de seu caráter e tão concorde com o verdadeiro espírito universitário, que não se compadece com personalismos e mesquinharias do gênero, sempre se dispôs a colaborar para a divulgação da obra poliédrica de Clodoaldo Freitas, grande valor das letras piauienses e também grande figura cultural do Maranhão.
Nasceu em São Luís, a 30 de agosto de 1887 e faleceu no Rio de Janeiro, a 9 de outubro de 1940. Bacharel em Direito. Diretor da Imprensa Oficial do Estado; presidente do Sindicato Maranhense de Imprensa; um dos fundadores da Companhia Telefônica do Maranhão.
Ao falecer, exercia as funções de Procurador Regional da República no Maranhão e Presidente da Academia Maranhense de Letras, onde fundou a Cadeira Nº 8, patroneada por Gomes de Sousa. Poeta, jornalista e prosador.
Era, ao lado de Alfredo de Assis Castro, estudante universitário quando ambos participaram da fundação da Academia. Juntamente com esse seu colega de turma e confrade da Academia, colou grau em 1911, quando recebeu o diploma de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela vetusta Faculdade de Direito do Recife. Dentre os 12 fundadores, era o mais jovem, pois contava 21 anos de idade.
De Vieira da Silva, guardei ciosamente, durante anos, uma lembrança indicativa das dificuldades materiais com que sempre teve de lutar a Academia, ao longo de sua existência já agora secular.
Consistia (ou consiste ainda?) tal lembrança em veneranda relíquia, por tratar-se de documento autógrafo dotado desta quádrupla qualificação: a) a idade da peça única; b) seu signatário; c) o destinatário; d) o assunto que versa.
Aconteceu, lamentavelmente, que, apesar dos cuidados de que sempre cerquei a guarda e conservação da relíquia, acidentes de percurso vez por outra ocorrem, como no caso de que aqui me ocupo. Rompeu-se uma das bordas do precioso suporte, fato que me levou a noticiar o desastre para diversas pessoas, entre as quais um indivíduo cuja notória e insaciável auri sacra fames (de que falou Virgílio na Eneida), à míngua dos poderes inerentes ao lendário soberano frígio, fez tal indivíduo supor-se dono de tudo quanto seus tentáculos alcancem, a despeito dos asininos anteparos auriculares que, por castigo, pespegou-lhe Apolo.
Pediu-me tal indivíduo que lhe cedesse a relíquia, com a promessa de restaurá-la e devolver-ma. Atendi ao pedido, não sem antes fazer dela uma xerocópia. A relíquia nunca me foi devolvida, e estou convicto de que jamais o será. Resta-me, porém, a xerocópia, triste recordação de uma gatunagem cuja prova a seguir vai reproduzida em seus anverso e verso. O destinatário da relíquia, Arnaldo de Jesus Ferreira, tornou-se posteriormente membro efetivo da Academia Maranhense de Letras, onde ocupou a Cadeira Nº 26, da qual é atual titular, Magson da Silva.
Vieira da Silva deixou diversos trabalhos em prosa ou verso, entre os quais se destaca o poema longo, composto de versos alexandrinos, publicado inicialmente no folheto Vibrações da noite (São Luís: Tip. Ramos d´Almeida, 1907. 12p. n/n), e incluído no volume Poesias. Consolação (Rio de Janeiro: Bedeschi, 1937; 2ª ed., São Luís, 2006), livro atesta o excelente prosador que foi Vieira da Silva. Poesias (São Luís: Tipogravura Teixeira, 1908), livro reeditado em 2008 (volume 11 da Série Fundadores, coleção Publicações do Centenário), devolve aos leitores, após transcorrido, precisamente, um século, um dos livros mais estimados da poesia maranhense, em razão de alguns sonetos nele inseridos, que se tornaram antológicos, a exemplo dos reproduzidos a seguir, ambos do livro Poesias.
Nasceu em São Luís, a 11 de abril de 1876, e faleceu na mesma cidade, a 20 de maio de 1918. De origem humilde, conforme assevera a placa transcrita, não será necessário maior esforço para chegar à conclusão de que enfrentou muitas dificuldades na vida.
Nascido na plena vigência do regime escravocrata, que somente 12 anos depois teria sua abolição nominal, já que as seqüelas sociais da escravidão, graves, profundas e vergonhosas, prolongar-se-iam por anos a fio, qual estigma indelével, facilmente se concluirá com quantos e tão grandes obstáculos Astolfo Marques precisou lutar e, mais que isso, vencê-los e superá-los.
Além de negro e pobre, nasceu numa época e numa sociedade negreira e, portanto, provincianamente amesquinhada pelo preconceito de cor, segundo registram diversas obras maranhenses, a exemplo, entre outras, de O mulato (1881), romance de Aluísio Azevedo, Vencidos e degenerados (1915), crônica maranhense de Nascimento Moraes, O cativeiro (1941), memórias de Dunshee de Abranches, e, do próprio Astolfo Marques, A nova aurora (1913), novela maranhense.
Por força de sua vocação para as letras e, em conseqüência da premente necessidade de muitas leituras que lhe lastreassem a cultura humanística e literária que não haurira nos bancos escolares, Astolfo Marques postulou e obteve ingresso no quadro funcional da Biblioteca Pública do Estado, onde foi admitido em função compatível com sua condição social: servente, cargo do qual, por sua dedicação e habilitações, ascendeu depois, atuando como amanuense/assistente da Direção da Casa.
A pouco e pouco firmou seu nome nos meios literários da cidade, pela copiosa colaboração que publicou em diversos órgãos da imprensa, a exemplo d´A Revista do Norte, dirigida por Antônio Lobo, do boletim Os Novos, publicação oficial da Oficina dos Novos, do Diário Oficial e do jornal Pacotilha. Nesses e em outros órgãos publicou seus famosos Apuntos Biobibliográficos, novelas, contos, racontos e outros registros interessantes da vida maranhense, seus costumes, suas festas e tradições populares.
Astolfo Marques é, por excelência, uma das mais completas e relevantes figuras do costumbrismo maranhense, timbrando em retratar, com fidelidade, a vida das camadas mais humildes da sociedade local, extrato social de provinha, que conhecia profundamente, e que jamais renegou.
Um dos fundadores pioneiros da Oficina dos Novos, e seu secretário-geral sempre reeleito, não por acaso ocupou, naquela importante entidade da vida literária maranhense, a Cadeira 2, de que era patrono Celso Magalhães, pioneiro dos estudos folclóricos no Brasil.
Também na Academia Maranhense de Letras, ao fundar a Cadeira 10, tomou para patrono o biógrafo Antônio Henriques Leal, consagrado autor do Panteon maranhense, cujo trabalho tem muito a ver com o pesquisador dos Apuntos Biobibliográficos.
Admira e edifica o fato de, na noite de 10 de agosto de 1908, no seleto grupo reunido no Salão de Leitura da Biblioteca Pública do Estado, onde Astolfo Marques servira de servente, achar-se ele, igual entre iguais, para participar da fundação da Academia Maranhense de Letras.
Entre os fundadores, foi Astolfo Marques o primeiro a falecer, após o trágico desaparecimento (1916) de Antônio Lobo.
Fran Paxeco, no trigésimo dia da morte de Astolfo Marques, aos 42 anos de idade, fez-lhe, no jornal Pacotilha, o elogio fúnebre, texto repetido na Revista da Academia Maranhense (Ano 2, v. 2), p. 77-79, que assim começa:
“Faz hoje trinta dias que Raul Astolfo Marques sucumbiu. Um padre solícito rezou uma segunda missa pela sua alma. Os filhos ficaram na miséria e os seus companheiros de trabalho, a breve trecho, esquecer-se-ão dele e do esforço que representou a sua vida, para subir à restrita nomeada em que a morte o arrematou. O egoísmo humano é feroz. E no entanto o Raul merece mais alguma coisa que missas – e do que o olvido cruel dos colegas.”
Bibliografia do Autor
Com exceção de trabalhos publicados em jornais e revistas, é a seguinte a bibliografia de Astolfo Marques: A vida maranhense (contos). São Luís: Tip. Frias, 1905; Natal (quadros). São Luís: Tipogravura Teixeira, 1908, obra reeditada (2. ed.: São Luís: AML/Eduema, 2008) como volume 9, Série Fundadores, das Publicações do Centenário; O Dr. Luís Domingues. São Luís: 1910; A nova aurora (novela maranhense). São Luís: Tipogravura Teixeira, 1913.
Astolfo Marques anunciou obras a publicar, sob as expressões “No prelo”, “A entrar no prelo” e “Em conclusão”, conforme a seguir: Seleta maranhense ou Coletânea de trechos em prosa e verso, de 45 filhos do Maranhão, precedidos da respectiva biobibliografia completa; Esboços e quadros, 1905-1908, 2ª e 3ª séries do volume publicado com o título A vida maranhense, 2 vols.; As festas maranhenses, narrativa histórica.
Nasceu em São Luís, a 26 de agosto de 1871, e faleceu no Rio de Janeiro, a 17 de maio de 1944.
Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife, integrou a turma que ali colou grau em dezembro de 1893.
Em São Luís, ainda na condição de estudante universitário, participou das preleções culturais chamadas cavacos literários noturnos, sob a luminosa direção de Manoel de Béthencourt, intelectual português, lente de Filosofia do Liceu Maranhense, dono de sólida cultura humanística, e que, por seu inusitado comportamento, haverá abalado os bolorentos preconceitos da cidadezinha provinciana de então, há pouco atingida por forte cataclismo social: a publicação, em 1881, do romance O mulato, de Aluísio Azevedo.
Sobre Manoel de Béthencourt, diz Dunshee de Abranches no livro de memórias O cativeiro, que “escandalizara a boêmia da terra, envergando calças de quadros largos, colete vermelho, gravata multicor, fraque de abas até a barriga das pernas, cartola ao lado da fronte, fumando dois charutos ao mesmo tempo, trazendo pendentes ao pescoço três monóculos e brandindo pelas ruas duas bengalas.”
Graduado em Direito e de volta à cidade natal, Xavier de Carvalho, no vigor de seus vinte e três anos, aproximadamente, integrou-se, de pronto, na vida cultural de São Luís. Logo em 1893 publicou seu livro de estréia, intitulado Frutos selvagens, um dos poucos resultados positivos da época de efervescência vivida em São Luís entre fins do século XIX e princípios do século seguinte.
Xavier de Carvalho, a princípio ligado à Oficina dos Novos, em 1901 participou da dissidência que, sob a liderança de Nascimento Moraes, fundou a Renascença Literária, que passou a editar o mensário A Renascença, cuja efêmera duração, não foi além do biênio 1901-1902.
Depois de breve permanência em Manaus, o poeta regressou a São Luís, onde exerceu as funções de lente do Liceu Maranhense, das quais posteriormente foi exonerado, por ser isso da conveniência do governante de plantão. Também em São Luís desempenhou funções da magistratura. Continuou a desempenhá-las em Belém, onde foi alcançado pela disponibilidade, em decorrência de disposição contida na Constituição de 1937.
Pouco numerosa é a obra de Inácio Xavier de Carvalho enfeixada em livro. Compõe-se de três títulos não volumosos, dos quais apenas dois são de literatura, na acepção estrita do termo.
Reis Carvalho, no ensaio A Literatura Maranhense, escrito especialmente para a Biblioteca internacional de obras célebres (1912), de cujo volume XX é a peça inicial, informa ser Xavier de Carvalho autor, ainda, entre outros trabalhos não enfeixados em livro, “de uma das mais belas poesias maranhenses, A Mulata, digna de figurar ao lado de A Crioula, de Trajano Galvão.” A ser correta essa avaliação de Reis Carvalho, como é de presumir que o seja, urge recolher para a permanência de um volume impresso a ser organizado, as poesias esparsas do nada prolífico Xavier de Carvalho, notadamente A Mulata, posto que um poema de qualidade estética tal, que o torne capaz de emparelhar-se com A Crioula, será obra de inegável merecimento literário.
Com a finalidade precípua de expungir, por descabidos e absurdos, eventuais mal-entendidos, e conclusões equivocadas, esclareça-se que as referências à obra pouco numerosa e ao nada prolífico Xavier de Carvalho, longe estão de encerrar qualquer reparo ou restrição ao poeta, cujo verbo contido, qual diria o excelente poeta Manuel Lopes, em nada diminui ou apequena uma obra de criação, qualquer que seja seu gênero. O que se pede, ou exige, para melhor dizer, de uma obra de arte, não é quantidade, mas qualidade.
Cervantes, ao fazer-nos legatários do Dom Quixote, tornou plenamente dispensados de seus papéis ancilares os demais itens de sua relativamente pouco numerosa bibliografia, assim como reduziu a entulho literário ou lixo puro e simples, milhares, milhões de romances que já houve, que há e que ainda haverá, lamentavelmente.
Guardadas as devidas proporções relativamente ao exemplo oferecido, que é superlativo, justo será concluir que a obra de Inácio Xavier de Carvalho possui, nos limites desta nossa importante e querida província literária, inegáveis qualidades estéticas, já sobejamente entremostradas no seu livro de estréia, Frutos selvagens, obra de transição entre o romantismo que se esvaía, por decurso de validade ou fadiga de material, como dizem os engenheiros, e o no Brasil malvindo e a princípio malvisto simbolismo, não raramente confundido ou misturado, retardarariamente, com o parnasianismo, em clara demonstração de que muitas vezes a forma confunde nossa percepção da essência, do conteúdo.
E por falar em essência: dúvidas não haja de que a essência, a culminância da obra literária de Inácio Xavier de Carvalho está contida no pequeno-grande livro Missas negras, reeditado com todas as honras devidas a uma grande celebração.
Necessário dizer que falar em pequeno-grande livro não significa lançar mão simplesmente de um lugar-comum há muito gasto e desgastado, e que fez carreira à custa da antítese pequeno-grande. O vocábulo composto por justaposição entra aqui, em razão de sua posição justa, para o caso concreto, semanticamente falando. É que Missas negras (Manaus: Livraria Universal, 1902), grande livro de poesia, tem como suporte um magérrimo volume de apenas 50 páginas não numeradas, com as quais não apresenta nem representa volume fisicamente considerável, a despeito de sua avantajada superfície: 20 x 28 centímetros. É, como visto, um livro pequeno e ao mesmo tempo grande, ou seja – um pequeno-grande livro, no qual se contém alta e grande poesia.
O terceiro e último livro de Xavier de Carvalho intitula-se Parábolas para bolas (Belém: Tip. do Instituto Lauro Sodré, 1919). Disse dele, linhas antes, que não é obra literária, e agora informo que também não chega a ser livro. Explico por quê: livro, prescrevem as normas técnicas pertinentes à matéria, é publicação não-periódica com mais de 48 páginas, computadas, as da capa. As publicações não-periódicas de mais de 4 e de até 48 páginas, são folhetos ou opúsculos. Caso de Parabólas para bolas, que tem 32 páginas, sendo, portanto, um folheto. Esse volumezinho, na Antologia da Academia Maranhense de Letras, p. 134 (São Luís: Academia Maranhense de Letras, 1958. 263p.; edição comemorativa do cinqüentenário da AML), é classificado como de versos humorísticos. O equívoco terá levado repetidores desatentos a reincidir nele. Na verdade, esse folheto compõe-se de cinco sonetos e uma ode que ao todo ocupam 8 páginas. Já os trabalhos em prosa, lato sensu falando, são 6 e perfazem 20 páginas.
Demonstrado, portanto, está que o volumezinho não é de versos humorísticos, mas de prosas e versos que nada têm de humorísticos, representando um despautério alguém afirmar, arrimado em afirmações de terceiros ou, quem sabe, desarrimado em sua própria desinformação, afirmar, repete-se, que ao poeta de Missas negras nenhum poeta humorista maranhense sobrepujou. Começa que, no livrinho aqui em comento não temos um poeta humorista, mas um adepto da Campanha Civilista de Rui Barbosa, que retardariamente publicou o folheto de sua adesão a um movimento que abraçou cheio de ressentimentos contra sua terra natal, que em notas sob dois sonetos é chamada “minha infeliz Apenas brasileira”, e novamente em outra nota, “infeliz terra”.
Seria, porém, erro imperdoável apreciar com mau humor esses textos que nada têm de humorísticos. São eles, ao contrário, expressões de irritação e falta de humor, que deixam o autor em clara desvantagem, se comparado, por exemplo, com ninguém menos que seu contemporâneo Euclides Faria (1846-1911), poeta humorista muito superior a Carvalho, embora, como poeta desadjetivado, esteja infinitamente abaixo de qualquer comparação com o esteta das Missas negras “sem hóstias e sem vinhos”, superiormente oficiadas no Grande Altar da Poesia, Religião suprema, superna, terna e eterna.
Inácio Xavier de Carvalho, um dos 12 fundadores-pioneiros da Academia Maranhense de Letras, ali instituiu a Cadeira Nº 9, sob o patronato de Gonçalves Dias. E, com o aumento do Quadro de Membros Efetivos para o número clássico de 40, foi feito patrono da Cadeira Nº 37, fundada pelo poeta Ribamar Pereira e ocupada sucessivamente por Luiz Viana, Amaral Raposo, Nascimento Morais Filho e Joaquim Haickel.
Nasceu em São Luís, a 3 de maio de 1853, e faleceu na mesma cidade, a 30 de abril de 1927. Iniciou sua formação educacional no prestigioso Colégio de Nossa Senhora da Glória, também chamado Colégio das Abranches.
Verdadeira vocação de educador, o professor Ribeiro do Amaral foi catedrático de História e Geografia do Liceu Maranhense, instituição a que também serviu na condição de seu diretor. Encarregado provisoriamente da reorganização da Biblioteca Pública, foi nomeado diretor dessa instituição em 13 de abril de 1896, ali permanecendo até 16 de agosto de 1896. Durante essa primeira e breve gestão, promoveu a mudança da Biblioteca da Rua Formosa para a Rua da Paz. Novamente posto à frente desse órgão, dirigiu-o de 19 de agosto de 1910 a 21 de julho de 1913. Diretor da Imprensa Oficial, e colaborador do Diário Oficial do Estado, onde, no período de 1911 a 1912 publicou diversos trabalhos sob o título geral de Maranhão Histórico, os quais, coligidos pelo escritor Luiz de Mello, resultaram no livro O Maranhão histórico, publicado postumamente.
Ribeiro do Amaral fundou e dirigiu o Colégio de São Paulo, que muitos e assinalados serviços prestou à educação da juventude maranhense.
Relevante aspecto da biografia intelectual desse ilustre maranhense, fato que merece atenção especial, é o vivo interesse que ele tinha pelas fontes fundamentais de seus estudos de eleição.
A par da portentosa coleção de jornais, possuía verdadeiras preciosidades bibliográficas, certamente a muito custo adquiridas em grandes centros, e trazidas para o Maranhão, sendo hoje desconhecido o paradeiro dessas raridades.
Na Academia Maranhense instituiu a Cadeira Nº 11, patroneada por João Francisco Lisboa, e exerceu a Presidência da Entidade desde sua fundação até abril de 1927, quando faleceu. Foi o segundo que por mais tempo exerceu a Presidência da AML.
Pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, figurou entre os que em 30 de novembro de 1925 fundaram o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, então denominado Instituto de História e Geografia do Maranhão e foi, por seguidos anos, o zeloso possuidor da maior coleção de jornais antigos do Maranhão, a contar do primeiro deles, O Conciliador (1821). Morto o mestre, sua família vendeu a coleção ao Estado do Maranhão, que a transferiu para o acervo da Biblioteca Pública Benedito Leite.
Autor de numerosa bibliografia historiográfica, da qual vão citados os títulos principais, excetuados trabalhos ligeiros e pequenos livros para uso escolar:
O conde d´Escragnolle. Rio de Janeiro: Livraria J. Leite, s/d; O Estado do Maranhão em 1896. Obra composta à vista de um grande número de documentos, / acompanhada da Carta Geral do mesmo Estado, bem como das / plantas, dos rios Parnaíba e Gurupi, da Ilha do / Maranhão, e da Cidade de São Luís em 1640 por ocasião da / Invasão Holandesa, e em 1844, e publicada sob os auspícios / do / Exmº Sr. Capitão-Tenente / Manoel Ignácio Belfort Vieira, / Govenador do Estado, / por /José Ribeiro do Amaral. São Luís: Tipografia do Frias, 1879; Apontamentos para a história da Revolução da Balaiada na Província do Maranhão. Primeira Parte, 1837-1839. São Luís: Tipografia a vapor da Alfaiataria Teixeira, 1898; Apontamentos para a história da Revolução da Balaiada na Província do Maranhão. Segunda Parte, 1839-1840. São Luís: Tipografia Teixeira, 1900; Apontamentos para a história da Revolução da Balaiada na Província do Maranhão. Terceira e Última Parte, 1840-1841. São Luís: Tipogravura Teixeira, 1912; A fundação de Belém; ligeira resposta ao estudo histórico do Sr. Cândido Costa; reivindicação histórica. São Luís: J. Pires, 1916; Limites do Maranhão com o Piauí ou a questão da Tutóia. São Luís: Imprensa Oficial, 1919; As revoluções do Segundo Império e a obra pacificadora de Caxias. São Luís: Tipogravura Teixeira, 1922; Efemérides maranhenses, 1ª parte – Tempos Coloniais. São Luís: Tipogravura Teixeira, 1923.
Foram publicados postumamente: O Maranhão histórico. São Luís: Instituto Geia, 2003 (coletânea de artigos históricos originalmente publicados no Diário Oficial do Estado entre 1911 e 1912, e recolhidos pelo pesquisador Luiz de Mello); Fundação de Belém do Pará; jornada de Francisco Caldeira de Castelo Branco. Brasília: Senado Federal, 2004.
Existem na Seção de Obras Raras da Biblioteca Pública Benedito Leite os originais do livro O Maranhão no Centenário da Independência; 1822-1922. 384p. datilografadas.
Fundação do Maranhão teve uma versão preliminar e muito simplificada no folheto do mesmo título: Fundação do Maranhão (São Luís: Imprensa Oficial, 1911. 15p.), espécie de balão de ensaio seguido, logo em 1912, do livro, escrito especialmente para comemorar o Tricentenário da chegada dos franceses ao Maranhão, fato de extraordinária importância para nossa história, que por sinal nasceu efetiva e consistentemente a partir dele, posto não haver nenhuma dúvida de que foi a invasão francesa do Maranhão que compeliu o governador Gaspar de Sousa e adotar providências que há tempos vinham sendo postergadas.
Assim, em decorrência de decisões de investidura formalizadas por documentos datados de Olinda, em julho de 1614, Jerônimo de Albuquerque e seu adjunto imediato, o sargento-mor do Estado do Brasil, Diogo de Campos Moreno, receberam a difícil missão de promover a expugnação dos que, sem nenhuma resistência dos naturais da terra haviam fundado solenemente, na Ilha Grande do Maranhão, a capital da Nova França ou França Equinocial.
Na época em que publicado, esse livro representou a disponibilização de copiosas informações relacionadas com a presença fugaz, mas inegável, dos franceses no Maranhão. Fugaz presença, repete-se, porém marcante e para sempre indelével por numerosos motivos, dentre os quais bastará referir estes dois:
– o nome inegavelmente francês São Luís, conferido ao Forte, e que, por natural desdobramento estendeu-se progressivamente à localidade, à medida em que ela ia crescendo. Topônimo que se firmou com tanta solidez, que contra ele não logrou prevalecer o de São Filipe, proposto pelos portugueses submetidos à dominação espanhola do período eufemisticamente denominado União Ibérica (1580-1640);
– os testemunhos históricos da ocupação francesa do Maranhão, a exemplo das crônicas deixadas pelos franciscanos Claude d´Abbeville e Yves d´Évreux, dois monumentos de valor inestimável, e que, com a Jornada do Maranhão […], de Diogo de Campos Moreno, formam o tripé fundamental de nossa história primeva no alvorecer dos tempos coloniais.
Além dos já citados originais de livros inéditos existente na Seção de Obras Raras da Biblioteca Pública Benedito Leite, há, do professor Ribeiro do Amaral nos arquivos da Academia, peças de sua correspondência passiva, manuscritos inéditos, coleção de medalhas comemorativas e os originais (doados pelo acadêmico José Sarney) do livro Fundação de Belém; jornada de Francisco Caldeira de Castelo Branco em 1616.
Nasceu na cidade maranhense de Pedreiras, a 29 de maio de 1885, época em que era modesto lugar de cuja povoação e desenvolvimento seus genitores, coronel Raimundo Nonato de Araújo e dona Antônia Corrêa de Araújo, foram destacados pioneiros.
Bem moço ainda, viajou para São Luís, onde se radicou e veio a falecer a 24 de agosto de 1951.
Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela antiga Faculdade de Direito do Maranhão. Lente de Sociologia e de História Universal do Liceu Maranhense, diretor da Imprensa Oficial (1918) e, nos períodos de março de 1930 a julho de 1942, e de agosto de 1945 a agosto de 1947, diretor da Biblioteca Pública do Estado. No primeiro período, investido em caráter efetivo no cargo, teve uma gestão tumultuada por graves desinteligências que resultaram em suspensões, licenças forçadas, disponibilidade, relotação etc. O segundo período administrativo serviu-lhe como uma espécie de desagravo.
Contava Corrêa de Araújo 23 anos de idade quando participou da fundação da Academia Maranhense de Letras, ali instituindo a Cadeira Nº 16, sob o patronato do poeta Raimundo Correia.
Poeta de vocação forte e irrenunciável, Corrêa de Araújo fazia de si próprio tão alto conceito, que se proclamava O Último Sabiá de Atenas, como, aliás, dizia expressamente grande placa de bronze que existia sob o busto do poeta, na Praça do Panteon, e que, roubada juntamente com o busto de Humberto de Campos, levou a Academia Maranhense de Letras a, por uma comissão de seus membros, entregar memorial ao prefeito Tadeu Palácio reivindicando vigilância permanente aos monumentos ou a imediata remoção deles daquele logradouro. Adotada a segunda alternativa em outubro de 2007, foram os bustos do Panteon realocados no pátio interno do Museu Histórico e Artístico do Maranhão.
Homem-poeta de ardentes e arrebatadoras paixões, supunha-se, de lira em punho, no pleno domínio de uma arma poderosa, capaz de provocar abalos sísmicos e desfechar ataques com potência de muitos megatons verbais. Daí suas exaltadas e às vezes furiosas invectivas, a exemplo das desferidas nos poemas satíricos (ambos de 1908) Pela Pátria, contra a oligarquia republicana e A Tirania, contra o rei português D. Carlos, e em favor de Guerra Junqueiro, a quem dedica seu segundo livro de poesias, Evangelho de moço, chamando-o “O Mestre Amado.”
Digno, também, de especial menção o excerto da Apóstrofe aos Impérios Centrais, publicado na Revista da Academia Maranhense (São Luís, Ano 2, v. 2, 1919, p. 73-76), com a indicação de pertencer a um folheto inédito contra a Alemanha imperialista.
Homem de sentimentos extremados e extremosos, punha a mesma verdade interior quando vociferava, furibundo, e quando se compungia, referto de blandície.
O professor Domingos Vieira Filho (1924-1981), sucessor imediato de Corrêa de Araújo na Academia Maranhense de Letras, dotou de criterioso aparato biobibliográfico a edição de Acrópole (São Luís: Ed. da Academia Maranhense de Letras, 1960. 173p.), obra póstuma do poeta. No item Bibliografia do Autor, relaciona 27 trabalhos, entre livros, folhetos e publicações esparsas em periódicos.
Com certeza, o fundamental da obra de Corrêa de Araújo encontra-se em seus três livros, a saber: Harpa de fogo, reeditado nas celebrações de 2008 (Série Fundadores, volume 6 da coleção Publicações do Centenário), Evangelho de moço (São Luís: Tipografia de Ramos d´Almeida, 1906. 157p.) e o já citado Acrópole, obra póstuma.
Corrêa de Araújo, que no livro de estréia, reeditado em 2008, declara-se filiado à Renascença Literária, no livro seguinte, Evangelho de moço, apresenta-se como “operário” da Oficina dos Novos, instituição da qual efetivamente fez parte, como titular da Cadeira 22, patroneada por Marques Rodrigues.
Nasceu em Codó, a 14 de junho de 1878, época em que seu genitor exercia as funções de juiz de Direito naquela cidade maranhense, e faleceu no Rio de Janeiro, a 12 de agosto de 1944. Repete-se, para elidir qualquer dúvida, em face dos reiterados registros errôneos sobre local e data de nascimento desse ilustre maranhense, que Godofredo Viana nasceu em Codó, a 14 de junho de 1878. Após fazer os estudos de Humanidades em São Luís, seguiu para Salvador-BA, em cuja Faculdade Livre de Direito bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais, no ano de 1903, integrando turma da qual foi o orador. De volta ao Maranhão, exerceu as funções de promotor público em Alcântara, e posteriormente as de juiz seccional substituto.
Jurista na verdadeira expressão do termo, produziu diversas obras nesse ramo do saber, a exemplo de No país do Direito (São Luís: Imprensa Oficial, 1914), além de haver redigido o Código de Processo Civil e Comercial e o Código de Processo Criminal do Estado do Maranhão.
Foi professor de Direito Constitucional da antiga Faculdade de Direito do Maranhão.
Pertenceu à Oficina dos Novos, onde ocupava a Cadeira Nº 17, patroneada pelo também codoense dos mais ilustres, Almeida Oliveira.
Governou o Maranhão de 1923 a 1926, havendo realizado administração operosa, que lhe possibilitou implantar, em bases modernas, os serviços de abastecimento de água, luz e esgoto de São Luís. Exerceu ainda o mandato de Senador da República.
A par de numerosos trabalhos de natureza diversa e de copiosa colaboração em jornais e revistas, publicou, no campo da literatura, os livros: Terra de ouro (evocações históricas). Rio de Janeiro: Calvino Filho, 1935; Ocasião de pecar (romance sob a forma de missivas a um destinatário fictício, e subintitulado Cartas Frívolas). Rio de Janeiro: José Olympio, 1939, e o romance Por onde Deus não andou (Rio de Janeiro: José Olympio, 1946), de publicação póstuma, reeditado em 2008 (volume 5 da Série Fundadores, coleção Publicações do Centenário).
Godofredo Viana, com toda certeza uma das mais brilhantes figuras do grupo fundador da Academia, teria deixado inédito um livro de poesia, intitulado Versos de outrora.
Romance regional sem resquício de culpa em razão de eventual anacronismo que não se lhe pode imputar, por desconhecimento da época em que foi escrito, já que livro de publicação póstuma, Por onde Deus não andou é ambientado em Codó, terra natal do autor, que apesar de lá não ter vivido por longo tempo, revela profundo conhecimento do microcosmo tomado para cenário da narrativa, que abrange, por extensão, larga faixa da hinterlândia maranhense, notadamente a chamada Região dos Cocais, mística de prolongado percurso do rio Itapecuru. Das profundezas desse pequeno mundo em si completo e autossuficiente, a despeito de suas carências endógenas, Godofredo Viana emerge, trazendo o registro dos costumes, do linguajar, das lendas, sagas, racontos, crendices, abusões, adagiário, rituais lúdicos, enfim – todas as manifestações culturais dos pagos longínquos e pobres, mas estuantes de vida. Vida vivida e manifestada nos folguedos populares, nas gestas antanhas ligadas ao ciclo do gado, a exemplo do Rabicho da Geralda, de que tratam José de Alencar (Nosso cancioneiro), Sílvio Romero (Estudos sobre poesia popular do Brasil) e outros mais. Também o bumba-meu-boi, sotaque daquela região em determinada época, é percucientemente coletado, inclusive com a inteireza de seu auto, espécie de entremez ou facécia hoje de ocorrência cada vez mais rara, inclusive por míngua de quem lhe faça a representação. Presentes, como seria de esperar, os acepipes e comes-e-bebes tipicamente regionais, e as danças da sociedade também, pois no romance há vida, e vida em abundância.
Digna de especial menção a engenhosa competência com que Godofredo Viana conduz a trama romanesca, desviando-a providencialmente de um desfecho que, manejado por mãos toscas, resultaria, talvez, em sanguinolenta tragicomédia cabocla, posto que o triângulo amoroso formado pelo engenheiro Alberto, chegado do Rio de Janeiro para conhecer as terras de sua família, a encantadora mulata Inácia, de cabelos ondulados e corpo escultural recendente a baunilha, e o companheiro desta, Amândio, homenzarrão destemido, escopeteiro que não erra sequer um beija-flor, sendo que este, por ignorar o tórrido romance, era a maior ameaça em caso de seu desvelamento.
Nada disso, porém, aconteceu. A narrativa tangencia a tragédia, mas passa ao largo dela, possibilitando que todos os actantes fossem felizes para sempre.
Embora este não seja um romance de tese, ocorrem nele importantes discussões de fundo social, inclusive e principalmente em torno do babaçu, importante item da vida econômica da região, à época ocupando posição de grande peso na economia maranhense.
Por fim, Amândio e Inácia retomam seu idílio, ao passo que Alberto embarca de volta para o Rio de Janeiro. A bordo do vapor Manaus, na amurada, contempla a cidade de São Luís, que vai sumindo, sumindo, à medida em que o vapor dela se afasta. Até que as ameias neomanuelinas das duas torres da Igreja de Santo Antônio desaparecem, tragadas pelas águas revoltas da baía de São Marcos.
“Godofredo Viana
[…] “À geração, aos companheiros de aventura renovadora e, mesmo, aos mestres, causava espanto aquele moço de vinte e dois anos, tão fortemente aparelhado para os prélios da inteligência. Poeta e prosador, com um estilo sóbrio e um admirável poder descritivo, poderia ser o melhor conteur, de todo o grupo. A sua paixão pelo Direito era, porém, evidente. E de tal maneira, e tão imperativa, que, ao regressar formado ao Maranhão, em 1903, havia lacrado, já, para exumação oportuna, o formoso livro de contos em que depositara, anos antes, toda a sua esperança de glória.
“Jurista de grande cultura, conhecendo, em uma cidade de vida forense retardada, os mais novos e complexos aspectos do Direito, era Godofredo Viana apontado, em breve, como a primeira cabeça jurídica do Maranhão. Os juízes mais antigos consultavam-no nas suas sentenças. Os presidentes do Estado se desejavam um contrato ou uma lei, mandavam buscá-lo a casa, metiam-no em palácio, e confiavam à sua competência a salvaguarda do interesse oficial. Foi assim que ele organizou os Códigos de Processo do Estado, e escreveu, no estilo mais límpido e com a cultura mais profunda, o Código de Processo Civil e Comercial do Estado do Maranhão, o Código de Processo Criminal, as Formas e fórmulas processuais, No país do Direito, a Prática do Processo Criminal, e outras obras que constituem hoje, nos do mínios do Direito, o que o Maranhão possui de mais perfeito, de mais sólido, e de mais moderno, em matéria de legislação.
“Modesto até os limites da inconveniência, Godofredo contentava-se com a alegria desse trabalho, quando lhe deram, como prêmio de construir a glória alheia, o cargo de juiz substituto federal. E exercia essas funções, muito abaixo do seu merecimento e dos seus direitos, quando, ao chegar ao Maranhão como presidente, Urbano Santos ficou indignado.
“– Mas você, com esse talento, aqui? Isto é um crime!
“E enviou-o, logo, diretamente, ao Senado da República, onde se impôs, de pronto, aos juristas mais ilustres da casa, e de onde saiu, altivo, digno, glorificado pela admiração nacional, para governar o Maranhão.
“Presidente do Estado, Godofredo Viana quis ser para a sua terra, e para a sua gente, o que era quando simples advogado: a mesma criatura afável, boa, gene-rosa. As portas do Palácio ficaram abertas, escancaradas a todas as classes. O dono da casa não sabia dizer “não” a ninguém. Às vezes, aparecia um sujeito a pedir uma cousa difícil – licença, emprego ou pagamento. O presidente oferecia uma evasiva, desculpando-se. O sujeito ensaiava, porém, uma lágrima na ponta da pestana. O presidente umedecia os olhos. E o sujeito estava servido.”
Humberto de Campos
Perfis, II série
Antônio Francisco Leal Lobo nasceu em São Luís, aos 4 de julho de 1870 e faleceu na mesma cidade, aos 24 de junho de 1916. Era filho de Policarpo José da Costa Lobo e de D. Francisco Leal Lobo. Foi professor da Escola Normal e do Seminário das Mercês. Dirigiu superiormente o antigo Liceu Maranhense, a Instrução Pública e a Biblioteca Pública, aí imprimindo administração moderna, com a introdução de novos processos de biblioteconomia. Escritor elegante e jornalista combativo, Lobo foi redator e colaborador de muitas folhas sanluisenses, merecendo destaque Pacotilha, A Tarde|, O Jornal, Diário do Maranhão, Federalista, Revista Elegante e a Revista do Norte, fundada por ele e Alfredo Teixeira. Nesses periódicos fez política, ficção, crítica literária e ciência, pois que era versado em sociologia e biologia. Exemplo marcante de autodidata, exerceu poderosa influência na geração de 1900, congregando-se à sua roda os jovens talentos esperançosos que formavam, então, as inúmeras sociedades literárias, surgidas do dia para a noite. Foi um dos fundadores da Academia Maranhense de Letras, onde ocupava a Cadeira nº 14, patrocinada por Nina Rodrigues.
BIBLIOGRAFIA:
- Diário do Maranhão. São Luís, 1893. (Romance de François Coppée, tradução)
- Relatório apresentado ao Governador do Estado do Maranhão sobre a Biblioteca Pública. Maranhão, 1899. 16 p.
- Revista do Norte. São Luís, nºs. 1, 2 e 3, 1901.
- Revista do Norte. São Luís, 1901, 202 p. (Romance de HenrikSienkiewcz, tradução.)
- As novas tendências do romance inglês. Revista do Norte. São Luís, ed. de 16-12-1901.
- Juiz sem juízo. Rio, 1901. (Comédia traduzida de A. Bisson, com Fran Paxeco.)
- Relatório apresentado ao Governador do Estado sobre a Biblioteca Pública. Maranhão: Tip. Frias, s. d. 1902, 123 p.
- As bibliotecas ambulantes e infantis nos Estados Unidos. In: Revista do Norte. São Luís, nºs. 44, 45, 46 e 47, de 1903.
- A carteira de um neurastênico. Maranhão: Edição da Revista do Norte, 1903. 359 p. (Romance)
- Prefácio ao livro Mosaicos, de Domingos Barbosa. São Luís, 1908.
- Positivismo e micróbios. São Luís, 1908
- A doutrina transformista e a variação microbiana: São Luís: Edição da Pacotilha. São Luís, 1909. 53 p.
- Os novos atenienses (Subsídios para a História Literária do Maranhão). Maranhão: Tip. Teixeira, 1909, 132 p.
- Concepção positiva do crime. Revista Brasileira de Sociologia. Rio de Janeiro Ano 1, p. 40-48, jan./mar., 1910.
- Pela rama. Maranhão, Imprensa Oficial, 1911. 331 p. (Crônica)
- As uniformidades naturais de sucessão. São Luís, Ano I, n. 1, 1912, p. 3 -17.
- A política maranhense. Maranhão: Tip. J. Pires, 1916. 113 p. (Obra póstuma).
Conferências pronunciadas no Club Euterpe: A maior dor humana; A medicina na literatura contemporânea; A obra literária e social de Zola; A boneca; A mentira: Artur Azevedo e o teatro nacional; As ideias morais no romance contemporâneo.
Inéditos: Retalhos da vida, contos; Comentos e opiniões, crítica e Ensaios de Lógica.
REFERÊNCIAS PARA ESTUDO:
- ABREU, Florêncio de. Antônio Lobo.In: Dunshee de Abranches e outras figuras, p. 271 a 286. (Conferência pronunciada na Federação das Academias de Letras.)
- ASSIS, Alfredo de. Recordações de Antônio Lobo. In: Dunshee de Abranches e outras figuras, de Joaquim Luz. Rio de Janeiro, 1954. p. 291 -316. (Conferências pronunciadas na Federação das Academias de Letras.
- CARDOSO, Clodomir. Antônio Lobo. Pacotilha, São Luís, ed. de 4-7-1916.
- José Augusto. Antônio Lobo. Pacotilha, São Luís, ed. de 27-6-1916.
- LOPES, Antônio. Antônio Lobo. Diário do Norte, SãoLuís, 1942.
- LOPES, Raimundo. Antônio Lobo. Via Lúcia, São Luís, julho de 1909.
- LUZ, Joaquim. Antônio Lobo. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, ed. de 4-11-1952.
O SEMANÁRIO MARANHENSE
O Semanário Maranhense (1867-68) foi o canto de cisne da brilhante geração literária que, em meados do século findo, no Maranhão viveu e trabalhou, explorando, com mestria e fulgor, quase todos os variadíssimos departamentos da produção mental. Nesse periódico colaboraram todos os espíritos superiores da época, não só os que já vinham do passado, tomando parte ativa nos movimentos anteriores, como também os que posteriormente haviam surgido para as letras, e que ainda se achavam, portanto, na fase incipiente dos ensaios e das tentativas, por onde naturalmente se estreiam todos aqueles que o mundo da publicidade literária, desde os primeiros anos, sugestionadoramente atrai.
Assim é que, ao lado de Sotero dos Reis, de Sousa Andrade, de Marques Rodrigues, de Antônio Henriques, de César Marques, de Gentil Braga, de Joaquim Serra, figuravam os nomes de Heráclito Graça, de Martins Costa e de Celso Magalhães, este último talhado, pela excelência do seu espírito, pela precocidade de sua cultura e, sobretudo, pela orientação superior que lhe norteava a atividade mental, para ocupar um posto de honra na literatura do seu país, se a morte o não houvesse desgraçadamente colhido, em plena mocidade, quando dispunha os materiais para os seus sonhados trabalhos futuros sobre o nosso folk-lore, trabalhos de que ainda nos conseguiu legar riquíssimas e promissoras amostras.
Desaparecido o Semanário, toda a brilhante colmeia debandou, disseminando-se os seus operários por diversos rumos, ao sabor das inevitáveis exigências da vida, que sobre cada um deles se faziam de modo diferente sentir. A morte, em breve, fulminou diversos, e os sobreviventes, ou emigraram para a capital do país, em busca de posições mais vantajosas, ou se deixaram esterilizar e absorver por cogitações de ordem prática, totalmente infensas às suas preocupações de outras eras.
Começou então para o Maranhão essa tristíssima e caliginosa noite em que, por tão longo tempo, viveram imersas as suas letras, noite cortada, por vezes, pelo clarão fugidio de algum astro errante, que para logo se ia eclipsar na morte, ou perder-se na distância a que era impelido pelas inelutáveis fatalidades da sua trajetória.
Pouco a pouco se foram obliterando as reminiscências das épocas fecundas do passado, e o espírito público, desabituado ao espetáculo dos torneios literários e inspirando-se no critério daqueles que apenas viam, no cultivo desinteressado das letras, uma simples diversão de ociosos e de pelintras, começou insensivelmente a criar entre nós uma atmosfera pronunciadamente hostil a todo e qualquer trabalho de semelhante natureza. As raras tentativas de reação contra esse estado de coisas, que, de quando em vez, a medo apontavam, viam-se irremediavelmente condenadas ao fracasso, por falta absoluta de repercussão alentadora no meio social em que se produziam. E os seus promotores, ante a barreira inexorável da indiferença pública, indiferença, em alguns casos, transformada até em agressão, exercida por certos órgãos de publicidade, ou desanimavam de vez, submetendo-se ás injunções de que eram alvo e indo engrossar as fileiras dos homens práticos incensados pela opinião, ou então, quando sentiam as espinhas rebeldes aos salamaleques requeridos, emigravam da província, indo levar a outras mais afortunadas o concurso precioso dos seus talentos e da sua atividade. Ainda em 1881 quando Aluísio Azevedo publicou O Mulato, houve um jornal maranhense que, por entre apodos e agressões, lhe deu de conselho que trocasse a pena por um sacho e fosse capinar roças no interior. “À lavoura, meu bruto, que de braços para lavoura é que andamos carecendo”, clama irado o foliculário indígena, guindado a patrono do algodão e do arroz. E o jornal que assim maltratava o artista maranhense, cuja estreia era acolhida com palmas e flores por toda a imprensa do sul, e que é hoje, indubitavelmente, um dos nomes mais gloriosos e nobres da literatura brasileira, ostentava como bem o frisou Coelho Neto, – no seu cabeçalho, em letras gordas e berrantes, este título incrível: A Civilização…
Não nos compete agora assinalar aqui todas as tentativas operadas, depois da morte do Semanário Maranhense, em prol do nosso reerguimento mental. Semelhante empreitada, além de perfeitamente dispensável pelo escopo do presente trabalho, que não é, de modo algum, historiar essas reações isoladas e infrutíferas contra o prolongado estado de apatia, filiando-a, tanto quanto possível, aos seus antecedentes imediatos, ficariam se a tentássemos, fatalmente incompleta, à míngua de dados precisos e exatos em que se pudesse firmar. Basta-nos, pois deixar assinalado que vida literária local absolutamente a não tínhamos e que, se continuávamos condignamente representados, na cultura geral brasileira, não era absolutamente pelo que aqui fazíamos, e sim pelo que na capital do país operavam escritores maranhenses, muito cedo emigrados da terra natal, em busca de campo mais propício às múltiplas expansões da sua atividade espiritual. Eram esses os depositários fiéis das nossas tradições, os continuadores impretéritos da grande obra do nosso passado, os herdeiros diretos do nosso nome literário, os únicos que nos asseguravam ainda incontestado direito ao realçante cognome de Atenas Brasileira. Não fossem os seus trabalhos, na imprensa e no livro, não fossem as continuadas e brilhantes exteriorizações do seu vigor cerebral, e Atenas para nós se teria transformado de vez numa triste babilônia de exílio, a cujos salgueiros se balouçariam, emudecidas para sempre, as liras de oiro dos nossos poetas, cujos acordes inspirados tão alto haviam erguido outrora o nome da terra maranhense.
(LOBO, Antônio. Os Novos Atenienses.)
Nasceu em São Bento-MA, a 28 de novembro de 1880, e faleceu no Rio de Janeiro, a 26 de dezembro de 1946. Jovem ainda, foi guindado ao importante posto de secretário-geral do Estado, no Governo de Benedito Leite (1906-1910). Jornalista, colaborou em diversos órgãos da imprensa maranhense, entre os quais A Revista do Norte, a revista Atenas, o jornal Pacotilha, o Diário Oficial do Estado e outros mais. Dirigiu a Imprensa Oficial do Estado em três ocasiões: 1908, 1912 e 1913.
Orador de grandes recursos, representou o povo maranhense na Câmara dos Deputados, havendo desempenhado o mandato de deputado federal nas legislaturas 1921-1923, 1924-1926, 1927-1929 e 1930-1932.
Em 1936 já se achava radicado no Rio de Janeiro, em cuja imprensa vez por outra colaborava.
Essencialmente prosador, firmou seu nome literário como contista, havendo publicado três livros de contos no relativamente curto espaço temporal que vai de 1908 a 1911.
Afora folhetos e participações em obras coletivas, Domingos Barbosa é titular da seguinte
Bibliografia:
Mosaicos (contos). São Luís: Tipogravura Teixeira, 1908; O dominó vermelho (contos). São Luís: L. Carvalho & Cia., 1909; Contos da minha terra. São Luís: Imprensa Oficial, 1911; Silhuetas (perfis biográficos). São Luís: Imprensa Oficial, 1911.Os Irmãos Azevedo, in Conferências. Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cia., 1939.
Compôs em versos um fabulário parcialmente publicado em periódicos, e intitulado Jardim Zoológico. Teria, ainda, deixado inéditos os livros, que por sinal anuncia ao final de Silhuetas, sob as rubricas “Prontos para o prelo”: Os tipos eçaneanos; Henriques Leal, a sua vida e a sua obra; A esmo (crônicas); “Em elaboração” O Lucas Sampaio e Sinhá Limeira (romances).
Silhuetas, livro reeditado nas celebrações do Centenário da Academia (volume 2 da Série Fundadores, coleção Publicações do Centenário), reúne 12 perfis biográficos de figuras distintas de São Luís, todas já falecidas quando da composição do livro, silhuetas essas que apareceram originalmente na primeira página do Diário Oficial do Estado, na mesma ordem dos capítulos do livro, que foi a seguinte, com as respectivas datas de publicação, no ano de 1911: O Doutor Maia, 30 de outubro; Benedito Leite, 1º de novembro; Sousândrade, 6 de novembro; Paula Duarte, 7 de novembro; Gomes de Castro, 11 de novembro; Palmério Cantanhede, 14 de novembro; Almir Nina, 16 de novembro; Euclides Faria, 5 de dezembro; Casimiro Júnior, 9 de dezembro; Augusto Brito, 12 de dezembro; Padre Fábio, 15 de dezembro; O tenor Rayol, 18 de dezembro.
Silhuetas, aqui já foi afirmado, é um livro de perfis biográficos, não sendo, conseqüentemente, um conjunto de biografias propriamente ditas. É, por essa mesma razão, um livro de quase-literatura, no qual seu Autor não está subordinado ao rigor de datas precisas e outras informações rigorosamente exatas ou que passem por tal.
Silhuetas, livro cujo título mantém perfeita correspondência com seu conteúdo, é obra composta de prosa leve, ágil e elegante, como leva a concluir o Dicionário Aurélio na primeira das acepções que consigna para silhueta, palavra provinda da língua francesa, introduzida no português por volta de 1880, e que se deriva do antropônimo Silhouette, devido a Estevam de Silhouette (1709-1767), que foi ministro das Finanças da França em 1759. A primeira das duas acepções que o Aurélio consigna para a multicitada palavra é a seguinte: “Desenho representativo do perfil de uma pessoa ou objeto, segundo os contornos que a sua sombra projeta.”
É o que faz Domingos Barbosa, com delicadeza e graça, ao silhuetar as doze importantes personalidades maranhenses que desfilam nesse livro de leitura amena e instrutiva, graças à argúcia das observações que faz seu Autor.