Cadeira ubiratan-teixeira
Os tempos eram outros. O cristianismo vivia sua etapa selvagem e o pau rolava solto entre crentes e não alinhados. Batista era o touro selvagem de Cristo, homiziado no deserto e distribuindo porrada a torto e a direita com sua palavra esfogueada, montado sobre o lombo da ateiada ignara. (E será que a humanidade mudou desde João Batista até MárioBergoglio, nosso atual Papa Chico?) Encurralado depois naquele cárcere do sacrifício ele teve a visão exata de seu Deus e de seu cristianismo o que mais fortaleceu sua fé. E hoje sinto falta da presença material dessa pedra fundamental de minha […]
Leitores já me encostaram na parede questionando se não tenho assunto mais recente e explosivo para tratar na minha crônicaalémdessas firulas do passado. Cobram minha opinião sobre essa forma medieval de vandalismo ressuscitada que grassa o planeta; o que penso sobre esse clima desarvorado que varre todos os paralelos queimando aqui, inundando ali; como encaro essa humanidade cibernética que já começou a produzir embrião por computador entre outras realidades de história em quadrinhos. Não vejo: acompanho. E concordo! Sou fã de Flash Gordon, enfim. Pois é; estou aqui, vindo do milênio passado, fisicamente todo esculhambado, mas saudavelmente racional, antes de […]
Nunca fui um racional vidrado nos irracionais. Tive cachorros em casa enquanto os filhos passavam o período adolescente e gostavam de ter um bicho ao seu lado. Por porre e ressaca criei uns dois ou três passarinhos de gaiola que só sabiam comer alpiste e sujar seis habitats. Um dia um tio de minha mulher sem poder viajar com um papagaio que havia trazido do interior, deixou o bicho comigo: uma semana depois o maluco se suicidou: integralmente – o animal fechava as asas e se atirava de cabeça no piso do terraço (um mês depois soubemos que o Tio […]
-Bira; se não for transtorno para ti, vamos jantar juntos na próxima terça?! – Transtorno nenhum se puder levar a patroa, respondi em cima da bucha. – Ih, cara! E nem perguntas quem é? – E precisa? Por esse preço e pelo salário que estou ganhando tem como fazer miricaca? – Mas… – Deixa de onda, pequena!!! Com essa voz morena e aveludada, fazendo um convite desse naipe num fim de mês de altos custos, impostos de todos os níveis e valores, só pode ser mesmo meu anjo da guarda! Que horas e onde? – Cretino… Faz tanto tempo e […]
Abichinha desmunhecou naquele gesto tão peculiar de delicadeza e sestro, descangotou a cabecinha ornada de lindos caracóis, revirou os olhinhos caramelados e disparou a chispa ferina em direção à “colega”: “Fresca…” — Eu, hem, retrucou a outra (ou o outro?) com sua voz delicadamente aflautada. Já passei desse estágio primário faz tempo, oh!!! – e estalou os dedinhos de unhas caprichosamente manicuradas. Estaquei minha machidez àquela altura, bloqueei todos os preconceitos guardados até alo sobre o assunto e convidei os dois – ou as duas – para um colóquio de esclarecimento alí mesmo no bar ao lado. — Limonada ou […]
Faz algum tempo, lá pelos idos dos anos 40 do século passado, fui proprietário de um negro: um negrinho de minha idade, mesmo assim minha propriedade, assim como ele mesmo se considerava e nós maranhenses considerava. A posse foi simples e linear; um acidente doméstico envolvendo incestos, burlas sexuais, amores proibidos, cios incontidos. Filomena era a negrinha bem-amada de Dona Dica, matriarca assumida de nosso clã, que sujigava sua mucama como bem de raiz e como instituição que deveria se manter castiça – ah! Mas quem refreia o grito da carne quando ela, sumarenta, se fende em desejos, palpitações humosas, […]
Chego o fim de meu octogésimo terceiro calendário de vida rodeado de dores e decepções; nada a ver com minha saúde física que está em pandarecos,a cabeça distiorada, o ânimo comprometido: mas a precária saúde cultural de minha esbulhada cidade deixa-me revoltado. Já não digo o chamado Centro Histórico que está ruindo, virando monturo consentido, mas o produto artístico e intelectual que vai sendo triturado por uma força satânicadestruidora. Onde foram parar nossos Salões de Arte que chegaram a interessar produtores de importantes centros culturais do país? Que destino cruel deram aos nossos programas editoriais que revelaram ao mundo talentosos […]