Cadeira carlosdelima
Eis um livro que todos os brasileiros deveriam ler. Entre outras razões, porque ele nos coloca diante do espelho, perante nossa imagem verdadeira, aquela que muitas vezes evitamos encarar. Em linguagem simples, antiacadêmica e sedutora, ele nos conta, com a objetividade e a clareza ausentes na maioria dos livros disponíveis sobre o assunto, a história da escravidão negra no Brasil. Primeiro de uma trilogia que o autor, o jornalista Laurentino Gomes, produziu após seis anos de pesquisas e visitas a uma dezena de países em três continentes, “Escravidão”, o livro a que aludimos, é a história muito bem contada de […]
Na biografia que deixou inédita e inconclusa do padre Antonio Vieira (1608-1697), João Francisco Lisboa mostra-se escandalizado com a defesa que o jesuíta fez, em cartas e sermões, da escravidão negra, em substituição à escravidão dos indígenas, que queria proibir, mas praticava e aceitava segundo critérios também condenáveis. “Aberrações tão incríveis não podem recomendar o grande orador à estima e admiração da posteridade”, escreveu Lisboa. Hoje, 322 anos depois de sua morte, Vieira mantém o prestígio e a fama que, nos últimos três séculos, granjeou, com toda justiça, como maior orador sacro da língua portuguesa e uma das vozes mais […]
O reencontro com o artista plástico e dançarino Mondego, que ficou dez anos sem falar e agora diz que é anjo, mas também demônio A última vez em que nos encontramos, quase uma década atrás, no Centro Histórico de São Luís, ele estava cumprindo o voto de silêncio que se impusera desde o começo do milênio. Num dia qualquer do final do ano 2000, decidiu que não pronunciaria mais nenhuma palavra, nem mesmo sozinho. Ninguém mais ouviria sua voz. E, então, mergulhou num silêncio impenetrável que durou mais de dez anos. Comunicava-se com gestos econômicos, para tratar apenas do essencial […]
Há 124 anos, Grover Cleveland, presidente dos Estados Unidos (1893-1897), escolhido como árbitro pelas partes em litígio, decidiu, a favor do Brasil, uma explosiva questão de limites territoriais levantada pela Argentina, que reivindicava soberania sobre o oeste dos estados do Paraná e Santa Catarina. A acreditar-se no testemunho insuspeito de Rui Barbosa, essa vitória, um dos grandes triunfos da diplomacia do Barão do Rio Branco, deveu-se, fundamentalmente, ao trabalho de um maranhense: o professor, escritor e tradutor José Antonio de Freitas (1849-1931), nascido em São Luís, mas radicado desde muito jovem em Lisboa. Convidado pelo então ministro das Relações Exteriores […]
Publicado há 160 anos, em São Luís, o romance Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, é hoje considerado um marco na história da literatura brasileira. Não por seu valor literário intrínseco (“Mesquinho e humilde livro é este que vos apresento”, advertiu a autora), mas por ser um dos primeiros, se não o primeiro, romance de temática nacional escrito por uma mulher e o primeiro a abordar, criticamente, o instituto da escravidão no Brasil. Maria Firmina dos Reis é, desde os anos 90, verbete de importantes obras de referência, no Brasil e no exterior, dentre as quais The Bloomsbury guide to […]
O duelo entre Machado de Assis e o maranhense Joaquim Serra “Qual dos dois cegos mais sente/ O penoso estado seu:/ O que cegou por desgraça,/ O que cego que já nasceu?” Em torno dessa intrigante questão, formulada pelo jornal fluminense A Marmota aos seus leitores, o então aprendiz de tipógrafo e aspirante a poeta Joaquim Maria Machado de Assis travou, aos 19 anos, sua primeira discussão pública, ao enfrentar outro Joaquim Maria, o maranhense Joaquim Maria Serra Sobrinho, de 20 anos – mais tarde um de seus mais diletos amigos – , no episódio que ficou conhecido como “a […]
No ano do 132o aniversário da publicação, em São Luís, do romance O mulato, marco do Naturalismo no Brasil, seu autor, o escritor Aluísio Azevedo, recebe de seus conterrâneos uma homenagem e uma desfeita. A primeira reedição maranhense do livro, promovida e lançada há uma semana pela Academia Maranhense de Letras, representa, na verdade, a segunda homenagem póstuma do povo maranhense ao seu romancista mais importante e um dos autores mais populares do Brasil. Por estranho que pareça, desde o ruidoso lançamento de O mulato, em 1881, fato que despertou a ira da sociedade escravocrata e conservadora de São Luís, […]