Cadeira 01
Escrevo estas linhas à beira-mágoa, como diria o poeta. Recusei-me, de início, a escrevê-las, sem saber se o que me afligia mais era a mágoa em si, ou a sua causa inesperada e inexorável. Encontrei-me ausente de São Luís, por alguns dias. De volta, retomando uma pauta de trabalhos adiados e inadiáveis, amanheço batendo as aldrabas da porta grossa do Mavam, o Museu da Memória Audivisual do Maranhão, aos pés da igreja do Desterro. Preciso de imagens para ilustrar algumas publicações próximas da Academia Maranhense de Letras. Bato, e ninguém me ouve. Bato e insisto. Abre-me a porta, relutante, alguém […]
Escritor celebra 80 anos neste sábado e é exaltado por admiradores e amigos SÃO LUÍS- Minha chegada a São Luís se deu por aproximações sucessivas, como a do namorado tímido que sabe do elevado valor da amada, mas hesita em chegar perto e se apresentar… o que – bem sabemos – tem lá o seu sabor, até mesmo para a chancela da saudade. No começo de 1965, vim da Paraíba para Coroatá, onde fiquei por nove meses. (Era a gestação do meu ser maranhense). Em setembro daquele ano, abri, liso, leso e louco, um escritório de representações comerciais em […]
Ela: – Vamos nos sentar, em pé de igualdade. Estamos todos no mesmo barco. Ele: – É, e o barco está afundando. O Procurador: – De fato, nunca como antes na história deste país, precisamos ser três poderes interdependentes e harmônicos. Ela: – Concordo. Ele: – Você quer dizer que, desta vez, todo mundo está com o rabo preso, ao mesmo tempo. Ela: – Certo, mas vamos manter o nível. Eu garanto que não soltarei palavrão. O Procurador: – Queira se explicar melhor. Meu caso é outro, você sabe. Ela: – Não exatamente como você pensa. É o seguinte: depois […]
(Das serras do sertão entre a Paraíba e o Ceará): Se algum dia chegar a ser verdade o que disse Antônio Conselheiro, que o Sertão iria mar, o mar começaria, sem dúvida, por estes imensos tabuleiros que se estendem por serras sem fim, nos Cariris do Ceará – Crato, Juazeiro, Barbalha – que negam, na facilidade dos olhos d’água e nos verdes dos baixios, toda a paisagem desolada que se contempla “ovunque il guardo io giro”. Não é esta a imagem que se faz dos sertões estorricados: basta compará-la com os Cariris paraibanos, a região mais triste e seca de […]
– Seu Zé, quer que eu passe água no para-brisa? A fala cantada me traz de volta um tempo e um mundo que não são mais os meus. A essa distância – para lá de 800 quilômetros corridos, da madrugada até a estas horas da tarde – muita coisa me faz amostra que o Maranhão ficou para trás, no estirão da estrada. Aos poucos perdeu-se aquele verde constante, entra mês, sai mês, com o qual me acostumei há um bom número de décadas, no Maranhão. Terra quase toda ainda coberta de vegetação. Aqui e ali a ameaça de chuva, inesperada […]
Se na semana passada, o nosso querido Jomar Moraes desculpou-se por escrever sobre o próprio pai, argumentando que não havia muito de extraordinário nisso, porque, afinal, todo mundo tem pai e mãe, que desculpas inventarei por hoje falar de mim? Explico-me: falo de mim, porque devo os alicerces de minha formação a um dos homens mais extraordinários que nos deu o século XIX. Fui beneficiado pela irradiação de seu trabalho quando já fazia 21 anos que ele havia sido declarado santo. Mas não é bom começar por essa constatação: haverá quem deduza daí que eu também sou santo. Além disso, […]
As linhas que puxo toda semana, nesta página, andavam cosendo os últimos babados, quando, sem buscar nem querer, esbarrei com um monstro dentro de casa. Estremeci. Dobrei rápido o tecido, recolhi “novelo e agulha”, enfiei toda a tralha no “balaio das mucamas”, à espera de ocasião mais oportuna em que exibir artes de Minerva. Daqui por diante, perdoem-me se não mostro dedos “ágeis como os galgos de Diana”, para ir adiante nesta ressonância do apólogo machadiano. Nossos tempos são de apocalipse, eu sei. Mas jamais nos acostumaremos com monstros. Não nascemos para isso. No maior zoológico do mundo, em San […]