
Benedito Buzar
Cadeira beneditobuzar
Carta a 2021
9 de janeiro de 2021
Como sempre, costumo procurar em jornais e revistas do país, as
mensagens de despedidas do ano em extinção e de saudação aos dias que
estão aflorando e trazendo esperanças de vida melhor, de mais saúde e de
prosperidade para o povo brasileiro.
No dia 31 de dezembro último,
quando 2020 vivia os seus estertores e a gente procurava esquecê-lo
sempre, pelos males causados aos povos do mundo inteiro, ricos ou
pobres, li na primeira página do jornal O Globo, do Rio de Janeiro, um
extraordinário e primoroso texto do premiado escritor angolano, José
Eduardo Agualusa, que, de forma notável e irretocável se despede
melancolicamente de 2020 e saúda a chegada de 2021, do qual espera menos
sofrimento e mais esperança.
A brilhante mensagem do intelectual
angolano, que deu-me alegria e otimismo, faço questão de levar ao
conhecimento dos leitores, para sentirem, como eu, o prazer
incomensurável de ler um texto especial e escrito como diria um poeta
cubano, “verdadeiro e duro, mas pleno de ternura”, para no ano novo a
gente não ter a sensação de ser igual àquele que passou, como registra a
composição musical de antigos carnavais.
O texto do escritor angolano
“Querido 2021, seja bem-vindo!
Entre, a casa é sua.
Se não for pedir demais, nos devolva, por favor, todos os abraços que seu prezado antecessor nos roubou.
Queremos também as gargalhadas dos parentes e amigos, o livre sorriso dos desconhecidos, a brisa no rosto.
Gostaríamos
ainda de ter de volta as alegrias das viagens, a tumultuosa euforia dos
estádios e dos grandes shows; todas as tardes em que não fomos beber
cerveja com os amigos no botequim da esquina.
Não se esqueça de nos devolver aqueles jantares intermináveis, em que discutíamos o fim do mundo e como iríamos recomeçá-lo.
Hoje,
que sabemos muito mais sobre o fim do mundo, essas conversas antigas me
parecem todas um tanto quanto ingênuas. Contudo, mais do que antes é
importante conversar sobre recomeços. Trocar sonhos. Debater utopias.
Peço
em particular que me devolva os festivais literários, dos quais, em
2019, eu estava até (confesso) um pouquinho enfastiado.
Durante o seu reinado, quero regressar a Paraty. Não posso perder o FliAraxá, a Flup ou a Flica, em Cachoeira.
Eu,
que não sou de futebol nem de carnaval, agora sinto ânsias de me perder
entre multidões, gritando, sambando, abraçando meus velhos pais sem
medo de contaminá-los.
A maior invenção da Humanidade não foi a roda
nem o fogo. Não foi o futebol, a feijoada, o samba, o xadrez, a
literatura, sequer a internet. A maior invenção da Humanidade, querido
2021, foi o abraço.
Olho para trás e vejo a primeira mãe, acolhendo
nos braços o filho pequeno. O nosso pai primordial apertando contra o
nosso peito forte (e peludo) a mulher amada; dois amigos se consolam
numa armadura de afeto. Depois desses abraços, alguma coisa mudou para
sempre.
O mundo continuou perigoso, sim, o mundo sempre será perigoso, mas passamos a ter o conforto de um território inviolável.
Foi o abraço que fundou a civilização. Com elevada estima. José Eduardo Agualusa.”
Noventa anos
No
ano passado, foi o ex-presidente José Sarney que completou noventa
anos, lamentavelmente, por causa da pandemia, os familiares e amigos,
não puderam comemorá-lo.
Este ano, quem chega à casa dos noventa anos
é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, data que também, se a
pandemia deixar, será festivamente comemorado pelos amigos e
admiradores.
Um ilustre desconhecido
Para o
lugar que o prefeito Eduardo Braid ocupava na Câmara dos Deputados, foi
convocado o primeiro suplente, Josivaldo dos Santos Melo, que pertence
ao Podemos.
Trata-se de um parlamentar literalmente desconhecido, que
eu não sei de onde veio e arranjou votos para se eleger deputado
federal.
Como dizia o Barão de Itararé, de onde menos se espera é de lá que não vem nada.
Triste opção
Se
o governador Flávio Dino resolver ser deputado federal em vez de
senador, só para ajudar o PC do B a superar a cláusula de barreira, a
fim de o partido ter acesso aos recursos do fundo partidário, fará a
maior derrapada política de sua vida.
Será a primeira vez que vejo um
homem público, abdicar espontaneamente de uma eleição majoritária sem
risco para atender uma causa irrelevante.
Predicados de Edivaldo
O
ex-prefeito Edivaldo Holanda mostrou na sua gestão que se pode ser um
bom administrador sem necessidade de ir a Brasília de pires na mão,
pedindo socorro ao Palácio do Planalto ou participando dessas
infrutíferas Marchas de Prefeitos.
Por falar em Marchas de Prefeitos,
pelo que me disse um ex-gestor maranhense, elas só servem para melhorar
a vida das praticantes da prostituição brasiliense.
Reforma administrativa
Quando
tomou posse o prefeito Eduardo Braid anunciou que, em regime de
prioridade, encaminharia à Câmara Municipal um projeto visando de
reforma administrativa na prefeitura.
Nessa reforma, pensava-se que
fosse enxugar a máquina administrativa da municipalidade, extinguindo
algumas secretarias, que não contribuem em nada para o funcionamento da
prefeitura.
Ledo engano. Em vez de desidratá-la, criou mais secretarias.
Venda de livros
Incrível, porém verdadeiro: as editoras e as livrarias festejaram este ano como há muito não acontecia.
As vendas on-line ultrapassaram a comercialização física das lojas.
Em 2020, os dois livros mais vendidos foram: O amor nos tempos de cólera, Gabriel Garcia Marques e A peste, de Alberto Camus.
Em
tempo: ganhei de presente, no ano passado, três excelentes livros, que
recomendo aos amigos que gostam de uma boa leitura: Samuel Wainer – O
homem que estava lá – de Karla Monteiro; A Odebrecht e o esquema de
corrupção que chocou o mundo – de Malu Gaspar; De cú pra Lua – de Nelson
Mota.
Acertou em cheio
Eduardo Braide acertou
em cheio ao escolher Marcos Duailibe, para a Secretária de Cultura.
Trata-se de um cara que faz parte do setor cultural, inteligente e
competente.